Twitter

ESCOLA 7 DE OUTUBRO > LISTAR NOTÍCIAS > DESTAQUES > MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA DE 7 DE OUTUBRO, COM HÉLIO MARTINS DA SILVA

Memórias da resistência de 7 de Outubro, com Hélio Martins da Silva

09/10/2015

52 anos do Massacre de Ipatinga, 28 anos de Escola Sindical 7 de Outubro e a resistência dos operários ao autoritarismo patronal e militar, em busca da verdadeira história brasileira.

Escrito por: Emanoel Sobrinho, formador da Escola Sindical 7 de Outubro

 

Militante sindical e ex-dirigente do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais, lesionado pela Usiminas e defensor dos direitos dos trabalhadores do campo, Hélio Martins da Silva, 53 anos, faz parte da história de resistência à ditadura militar dentro e fora da Usiminas, na região do Vale do Aço.

Nesta entrevista, concedida ontem (08/10), nas dependências da Escola 7 para o formador Emanoel Sobrinho, Hélio fala do Massacre de Ipatinga de 1963, da opressão patronal e militar na Usiminas e da sua luta pessoal pelo direito de anistia como vítima do autoritarismo militar.

Por uma feliz coincidência, nosso entrevistado estava participando de um encontro organizado pela Cáritas Brasileira, desde o dia 07 de Outubro. Talvez nada seja por acaso, já que a Escola 7 contribuiu para a formação deste militante orgânico das lutas do povo.

Na época, a Usiminas era a maior siderúrgica brasileira e foi privatizada em outubro de 1991, durante o governo Collor, apesar da resistência da Central Única dos Trabalhadores (CUT) ao leilão que entregou este patrimônio nacional ao capital estrangeiro.

Nascido na singela cidade de Dom Cavati, região do Vale do Aço, casado e com dois filhos, Hélio da Silva continua sua militância voltada para a organização de assentados da reforma agrária e atingidos por barragens, em parceria com o movimento sindical, através do Instituto Calazans.

 

Qual a sua lembrança como trabalhador da Usiminas?

Hélio: O sonho de todo adolescente da minha região era ter um emprego na Usiminas. A Usiminas contava uma história de maravilhas do progresso e do bom emprego, que encantava toda a juventude. Ingressei com 22 anos nesta estatal e percebi que a história era outra. Com dois anos de emprego, a decepção era grande. Tive várias internações hospitalares por doenças físicas e mentais contraídas no local de trabalho. Jornada de trabalho extenuante, altas temperaturas, terror psicológico e assédio moral faziam parte da história não contada pela Usiminas para a sociedade da época.

 

Qual a sua perspectiva sobre o Massacre de Ipatinga?

Hélio: Para mim, o Massacre de Ipatinga, ocorrido em 7 de Outubro de 1963, continuou nas práticas dos gestores da Usiminas até os anos 2000. O Massacre contra os trabalhadores, que lutavam por melhores condições de vida e trabalho, pela polícia militar do estado de Minas Gerais, é um fato histórico e que marca até hoje os operários do Vale do Aço. Ficou a marca do terror para os moradores da localidade e para os migrantes que buscavam melhores oportunidades e viram seus sonhos desmoronarem dentro de uma estatal autoritária e opressora. Perseguições constantes, sala de interrogatórios, pau de arara, espancamentos eram utilizados pela ação patronal e militar contra os trabalhadores no local de trabalho. Essa prática de terror continuou mesmo com a privatização, em 1991.

O Massacre de Ipatinga marca os antecedentes do Regime Militar (Golpe de 1964) no Brasil contra à democracia e aos direitos dos trabalhadores. Há famílias que ainda querem saber do paradeiro dos seus entes queridos, desaparecidos durante o Massacre de Ipatinga. Dona Tereza, com idade em torno de 80 anos, reside atualmente Nova Era, e sonha em saber a verdade sobre o sumiço do seu irmão, que trabalhava numa das empreiteiras contratadas pela Usiminas, em 1963. Ela foi uma das depoentes da Comissão da Verdade, instalada pelo governo Dilma Rousseff.

 

Como você conheceu a Escola Sindical 7 de Outubro?

Hélio: Tenho profunda admiração pela Escola 7, pois ela mantém viva a história dos operários que lutaram por seus direitos e foram vítimas da repressão policial. A cor vermelha no emblema da Escola representa o sangue dos trabalhadores derramado no Massacre de Ipatinga.

O melhor curso de formação sindical que participei foi na Escola 7. Em 1989, completei três ou quatro módulos de Matemática Sindical, na Escola. Foi aqui que eu tive a base para aprender a fazer negociação de conflitos sociais. Carrego comigo até hoje esta experiência, colocando-a a serviço da defesa dos interesses dos assentados da reforma agrária e dos atingidos por barragem.

 

Qual a sua luta atual?

Hélio: Eu sofro com as mazelas das doenças contraídas nos anos que passei na Usiminas. Tive que me aposentar precocemente por conta da depressão profunda e das convulsões epiléticas. Luto para que os operários que compuseram a chapa de oposição cutista ao Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga no ano de 1988 sejam anistiados e reconhecidos como vítima dos resquícios da Ditadura Militar. Nosso grupo de 88 da chapa de “Oposição Ferramenta” (como ficou conhecida) luta para o reconhecimento pela Comissão da Verdade, pois sofremos dura repressão dentro e fora da Usiminas quando decidimos lutar pela construção de um Sindicato autônomo e combativo.

A resistência em reconhecer o nosso direito como anistiados, assim como foi garantido à oposição cutista de 1985 no mesmo Sindicato, fundamenta-se na promulgação da Constituição Federal de 5 de Outubro de 1988. Considera-se que neste período passou a existir o Estado democrático de direito. No entanto, a verdade é que a tortura na Usiminas continuou massacrando a integridade física e psicológica dos trabalhadores, mesmo após a Constituição Cidadã brasileira.

Além disso, continuo minha militância na coordenação do Instituto Calazans. Atuo na mediação dos conflitos agrários e sociais, visando garantir os direitos dos trabalhadores do campo, que lutam por terra e contra os efeitos das barragens de água.

  • Imprimir
  • w"E-mail"
  • Compartilhe esta noticia
  • FaceBook
  • Twitter

Conteúdo Relacionado

TV CUT
João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta solidariedade a sindicalistas coeranos presos.
João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta solidariedade a sindicalistas coeranos presos.

João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta(...)

RÁDIO CUT
Cedoc/CUT IOS/CUT Unisoli

Escola Sindical 7
Rua Nascimento, 101 | Barreiro de Cima | Belo Horizonte | MG | CEP 30620-390
Tel.: (55 31) 3383.6789 | www.escola7.org.br