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ESCOLA 7 DE OUTUBRO > ARTIGOS > DESEMPREGO, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E COMPETITIVIDADE: DESAFIOS ATUAIS DO MOVIMENTO SINDICAL CLASSISTA

Desemprego, Inovação Tecnológica e Competitividade: Desafios atuais do movimento sindical classista

Escrito po: José Celestino Lourenço (Tino), secretário nacional de Formação

03/04/2013

 

 

Nesta semana foram divulgados os novos índices de desemprego na chamada zona do Euro. Segundo as notícias veiculadas, no mês de fevereiro o desemprego atingiu o patamar de 17,13 milhões de pessoas, representando 10,8% da população ativa dos países que constituem tal região.

 

Espanha (23,6%), Grécia (21%), Portugal (15%) e Irlanda (14,7%), França (10%) e Itália (9,3%), respectivamente, apresentam os maiores índices de desemprego da Zona do Euro. O índice de 10,08% identificado no último mês de fevereiro representa 1,48 milhão de desempregados a mais em comparação com o mês de janeiro de 2011. Os dados por si só já são alarmantes e demonstram a profundidade dos impactos da atual crise capitalista sobre o direito fundamental do emprego.

 

Incrível como este quadro de exclusão de milhões de trabalhadores e trabalhadoras não sensibiliza os condutores das economias da zona do euro no sentido de reorientá-las visando uma melhor articulação entre medidas que visem à retomada do crescimento econômico com desenvolvimento social, como vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos. Ao contrário, todas as medidas que vêm sendo tomadas, sob a égide da “troica” - Fundo Monetário Internacional Comissão Européia e Banco Central Europeu - apontam na direção do aprofundamento do desemprego e da exclusão. Não por acaso, os países europeus vêm apresentando números crescentes em relação ao empobrecimento das suas respectivas populações, com o consequente crescimento das lutas de resistências por parte dos trabalhadores/as.

 

Outra notícia que me chamou atenção, diz respeito aos investimentos que as empresas estão fazendo em inovações tecnológicas e os impactos sobre o emprego e as relações de trabalho que tais investimentos poderão ter. Segundo matéria publicada no Jornal Folha online, a robotização que era uma característica das empresas automobilísticas (que utilizava 36% dos robôs utilizados no mundo, participação que caiu para 28%) está se espraiando por outros setores industriais e já está em andamento um intenso processo de transformações em setores como elétrico e eletrônico (que saltou de 18% para 26% dos robôs utilizados no mundo), bem como para setores fabricantes de plásticos, produtos químicos e cosméticos.

 

Segundo os analistas que apresentam os dados presentes na matéria, o avanço da robotização dos processos produtivos é uma tendência, e o excesso de força de trabalho deixará de ser uma vantagem comparativa, já que as empresas tenderão a voltar-se para países com mão de obra mais qualificada, de baixo custo e com boa infraestrutura. Há empresas, como a Foxconn que atua no setor de eletrônicos e de capital chinês, que já anunciou a pretensão de “empregar” até 2014 mais de 1 milhão de robôs, já que o custo da compra de um robô equivale (segundo a empresa) a um ano de salários de um trabalhador.

 

Evidentemente que pra nós, tais informações não trazem grandes novidades. Pois, desde os anos 80, década da fundação da nossa Central Sindical o tema do desemprego e da automação nos processos de trabalho são constantes em nossas reflexões, formulações e estratégia de ação. No entanto, o que há de “novo” neste cenário é intensidade da entrada de empresas chinesas neste processo com a clara intenção de desvalorizar o chamado “trabalho vivo” em uma acepção marxiana. Tal preocupação se coloca a partir de dois fatos por nós conhecidos. O primeiro, em relação às condições de trabalho em que os trabalhadores chineses estão submetidos (jornadas de trabalho intensas, baixos salários, repressão sobre a organização sindical, ausência de liberdade de organização). Em segundo lugar, pelo fato das empresas chinesas tenderem a levar este tipo de relação precária de trabalho aos países em que estão se instalando, podendo influenciar todos os setores a impulsionarem uma agende regressiva no campo da (des)regulamentação do trabalho.

 

Para a classe trabalhadora fatores como crise econômica, desemprego, inovação tecnológica e aumento de competitividade entre as empresas, implicam sempre em perda de direitos. Logo, é urgente o sindicalismo em âmbito internacional avançar no aprofundamento desses temas, seus impactos sobre as relações de trabalho e avançar urgentemente em ações solidárias no campo da organização e da ação sindical, sob pena de estratégias como a da “flexigurança” se imporem como nova lógica no mercado de trabalho.

 

Este conceito – flexigurança - é a mais nova criação dos liberais europeus a partir do qual defendem a flexibilização da legislação trabalhista nos países europeus, permitindo que as empresas tenham liberdade para demitir um trabalhador/a. Defendem alguma compensação temporária como investimento em treinamento (como sinônimo de qualificação) e um “bom” seguro desemprego. Na verdade, conforme alguns analistas, as empresas querem aproveitar o cenário de crise para alavancar estratégias que favoreçam maiores taxas de lucros. Isso significa, aumento dos contratos de curto prazo, baixos salários e mais desemprego. Aspectos que tendem a aprofundar a crise e não resolvê-la.

 

Se esta moda pega por lá, imaginem como os capitalistas de “tradição tupiniquim” agirão por aqui. Por isso, além de uma ação sindical consistente em âmbito internacional, nós da CUT temos que estar atentos a estes novos “sinais dos tempos”, nos antecipando às iniciativas que visam aprofundar os ataques aos direitos dos trabalhadores/as. Avançar urgentemente na organização por local de trabalho, investir na estratégia de organização por ramos de atividade, fortalecer a ação sindical internacional através das Redes, intensificar processos de negociação e contratação coletiva na lógica das cadeias produtivas – dos ramos, são condições fundamentais para o enfrentamento desses fenômenos que, se por um lado não são novidades para nós sindicalistas, por outro, dada sua intensidade e profundidade no cenário mundial atual, exigem formulações e respostas contundentes da parte dos trabalhadores/as.

 

Crise, desemprego e inovação tecnológica não são fenômenos naturais. São resultantes de escolhas políticas e ideológicas dos setores neoliberais que detêm a hegemonia no mundo contemporâneo. Nosso maior desafio é fortalecer a identidade classista dos trabalhadores/as no Brasil e no Mundo, visando alterar a correlação de forças e mudar os rumos da humanidade.

 

Todos sabemos que o Brasil não está isento dessas escolhas. Por isso, está correta a campanha desencadeada pela nossa Central em defesa da liberdade e autonomia sindicais, bem como pelo fim do imposto sindical. Sindicato forte e capaz de enfrentar as novas estratégias do capital é sindicato organizado e sustentado a partir da vontade própria dos trabalhadores/as. No cenário que se desenha não muito distante, sindicato que não tiver forte representatividade na base será engolido pela voracidade flexibilizante do capital. Nós não podemos adotar a postura do “pagar para ver”, temos que agir desde já.

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