Twitter

ESCOLA 7 DE OUTUBRO > ARTIGOS > RESENHA: TRABALHO ASSALARIADO E CAPITAL & SALÁRIO, PREÇO E LUCRO, DE KARL MARX

Resenha: Trabalho assalariado e capital & Salário, preço e lucro, de Karl Marx

Escrito po: Emanoel Sobrinho, educador da Escola Sindical 7 de Outubro

13/05/2016

A preocupação de Karl Marx de popularizar análises e conceitos da Economia Política para o movimento operário trouxe à luz dois textos fundamentais para a compreensão crítica da dominação capitalista.

A preocupação do filósofo alemão Karl Marx de popularizar análises e conceitos da Economia Política para o movimento operário trouxe à luz dois textos fundamentais para a compreensão crítica dos mecanismos de funcionamento e dominação capitalista. Os textos Trabalho assalariado e capital & Salário, preço e lucro revelam seu papel como “formador” da consciência de classe e da organização dos operários contra a exploração do capital, no contexto de uma Europa marcada por convulsões sociais no final da primeira metade do século XIX.

Os textos são precedidos por uma introdução escrita por seu maior parceiro intelectual e de militância política, Friedrich Engels, na data de 30 de abril 1891. Embora a introdução seja ao texto Trabalho assalariado e capital, Engels aborda como Marx supera os limites dos economistas burgueses do seu tempo em relação à teoria do valor, mais aprofundada no texto Salário, preço e lucro. Tratava-se, assim, de apontar didaticamente como o trabalho assalariado, o preço e o lucro constituem os pilares fundamentais do sistema de produção capitalista. Eis o fio condutor que garante unidade e coerência aos dois textos publicados pela Expressão Popular numa segunda edição do livro com 144 páginas.

O texto Trabalho assalariado e capital chegou pela primeira vez aos leitores através de uma série de artigos publicados na Nova Gazeta Renana, em abril de 1849. Segundo Engels, os artigos serviram de base para Marx fazer a formação política dos operários alemães residentes na Bélgica e desenvolver a propaganda entre eles das ideias do comunismo científico, por meio da Associação dos Operários Alemães de Bruxelas, criada por Marx e Engels, em 1847.

A relação econômica entre capital e trabalho assalariado é a base material da luta política na sociedade capitalista de classes. No seio desta relação, estão os interesses inconciliáveis entre trabalhadores e patrões. A disputa pelo salário, do lado dos operários, e, pelo lucro, do lado dos burgueses, faz desta relação uma razão inversa, em que o crescimento de um significa o encolhimento do outro, e vice-versa.

Neste estudo, o salário é definido como valor de troca da força de trabalho explorada pelo burguês. Como uma mercadoria da produção fabril, a força de trabalho é a atividade vital do operário assalariado, vendida para assegurar os meios de vida necessários para a reprodução social dele e da sua família. Ou seja, o salário representa o preço (monetário) da força de trabalho do operário.

O que determina o preço da força de trabalho? Essa pergunta é respondida por Marx da seguinte forma: “o preço será determinado pelos custos de produção, pelo tempo necessário para produzir a força de trabalho”. Em seguida, ele afirma que os “custos de produção são os custos necessários para manter um operário como operário e fazer dele um operário”.

Evidentemente que a lei econômica da oferta e da procura pode interferir nos salários. Considerando um cenário favorável de crescimento do capital produtivo, cresce também a procura por força de trabalho e, com isso, há uma elevação do preço dela, ou seja, dos salários. “O rápido crescimento do capital produtivo provoca crescimento igualmente rápido da riqueza, do luxo, das necessidades sociais e dos prazeres sociais”, explica Marx.

Embora o salário real cresça neste cenário hipoteticamente favorável, devido ao crescimento da demanda de trabalho nas lides fabris, o salário relativo tende a decrescer. Isto porque o desenvolvimento ascendente do capital produtivo aumenta a extração da mais-valia, da taxa de lucro dos patrões.

Para Marx, na verdade, o aumento do capital significa o aumento do abismo social que afasta o operário do capitalista, e que aumenta, ao mesmo tempo, o poder do capital sobre o trabalho. Aí reside a importância da luta pelo aumento do salário como forma de diminuir o lucro dos patrões. Mas, as conclusões dele não param por aí. Somente a luta pelo fim do sistema de trabalho assalariado conduziria verdadeiramente os operários a se libertarem da escravidão capitalista.

No texto Salário, preço e lucro, o filósofo alemão trava uma polêmica direta contra sr. Weston, durante o Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional), em junho de 1865. Nele, Marx expôs, pela primeira vez, as bases da teoria da mais-valia. Weston, membro da Internacional, afirmava erroneamente que o aumento dos salários não poderia melhorar a condição de vida dos operários e que era preciso considerar perniciosa a ação das Trade Union (maior organização do sindicalismo inglês naquele período).

Neste escrito, Marx se propôs combater os apelos à passividade e à resignação diante da exploração do capital, bem como fundamentar teoricamente a importância da luta econômica do movimento operário. Com isto, Marx desfere uma crítica contundente à ideia de que o aumento da taxa de salários, por consequência, aumentaria o preço das mercadorias, conforme proposto por Weston.

A despeito das análises mais detalhadas sobre o salário, é possível se chegar a seguinte conclusão: “o aumento geral na taxa de salários, após uma perturbação temporária dos preços de mercado, resultaria apenas numa queda geral na taxa de lucro, sem qualquer mudança permanente no preço das mercadorias”.

A luta de massas do operariado pela redução da jornada de trabalho na Inglaterra para 10 horas diárias também é analisada por Marx para combater a falsa ideia de que os salários regulam os preços de produtos do mercado. A conquista da Lei das Dez Horas (em 1847) resultou num “aumento dos salários em dinheiro dos operários, num grande aumento do número de operários ocupados na indústria, na queda constante nos preços dos produtos, num grande desenvolvimento das forças produtivas e numa expansão de mercados para as mercadorias da indústria inglesa”. Marx cita que o impacto desta lei no aumento do crescimento do capital produtivo foi reconhecido pelos economistas burgueses durante a assembleia da Sociedade para o Progresso da Ciência, em 1861.

Mas, o que determina o valor da mercadoria? Para se produzir uma mercadoria, deve-se investir nela ou a ela incorporar uma determinada quantidade de trabalho. Não se trata do trabalho individual de um operário na fábrica. Refere-se, na realidade, ao trabalho de toda a sociedade que permite a produção das mercadorias. Assim, uma mercadoria tem valor porque é uma cristalização do trabalho social, nas palavras de Marx.

Portanto, a quantidade de trabalho socialmente necessário, incorporada nas mercadorias, é o que determina o valor (de troca) delas. A partir destas análises, Marx expôs a seguinte lei geral: os valores das mercadorias estão na razão direta do tempo de trabalho incorporado em sua produção em razão inversa dos preços dos produtos. Desta forma, o preço é apenas a expressão monetária do valor da mercadoria e suas oscilações no mercado podem variar de acordo à lei da oferta e da procura. Assim compreendido, os salários estão limitados pelos valores dos produtos, mas os valores dos produtos não são limitados pelos salários.

Ao colocar em relevo os mecanismos de funcionamento e exploração do trabalho pelo capital, Karl Marx forneceu ferramentas teóricas indispensáveis para fundamentar a importância da luta econômica do movimento operário e, ao mesmo tempo, reconheceu a relevância dos sindicatos para impulsionar a luta pela “emancipação final da classe trabalhadora, isto é, para a abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado”.

Portanto, o livro Trabalho assalariado e capital & Salário, preço e lucro é uma leitura obrigatória para dirigentes, militantes e formadores do movimento sindical e de organizações populares que se dedicam à formação da consciência de classe dos trabalhadores e das trabalhadoras. Também é recomendável para aqueles e aquelas que procuram compreender a contribuição intelectual de Marx para a crítica da Economia Política capitalista contemporânea.

  • Imprimir
  • w"E-mail"
  • Compartilhe esta noticia
  • FaceBook
  • Twitter

Conteúdo Relacionado

Nome:
E-mail:
Título:

TV CUT
João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta solidariedade a sindicalistas coeranos presos.
João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta solidariedade a sindicalistas coeranos presos.

João Felício, presidente da CSI, Confederação Sindical Internacional, presta(...)

RÁDIO CUT
Cedoc/CUT IOS/CUT Unisoli

Escola Sindical 7
Rua Nascimento, 101 | Barreiro de Cima | Belo Horizonte | MG | CEP 30620-390
Tel.: (55 31) 3383.6789 | www.escola7.org.br